terça-feira, 20 de abril de 2010

Aqui jaz:

(reencontrei este projecto que aqui jaz à espera da vida eterna)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Enquanto não regressar de Alcácer Kibir, serei sempre o Desejado.

Enquanto não regressar de Alcácer Kibir, serei sempre o Desejado. Assim fico na segurança de ser desejado, na segurança de me sonhar desejado. Aqui na eterna Antemanhã, visto de longe, sou inertemente perfeito. Mais perto, onde só Eu me vejo, sinto-me progressivamente a alcançar a perfeição do horizonte que foge.

(Sei também que para alguns olhos longínquos sou inertemente estúpido, ou convencido, ou vazio… Tenho pena, mas tenho mais que fazer que dar-lhes a graça de um conhecimento pluridimensional de mim… Tenho Eu também ideias erradas sobre muitos eles; a diferença é que gosto de todas e todos eles…)

Importa mais aqui o progresso no sentido da perfeição. Sinto-me progredindo mas é igualmente certo que poucas oportunidades me dou para errar. Mas nisso também consiste a minha Liberdade…

Poucos são os recursos de que disponho. Roubo tempo ao sono para gastar na minha liberdade. Roubo tempo aos prazeres comuns para gastar na minha liberdade. Tenho a liberdade pelo poder de fazer o que devo… Sou livre porque sei o que devo fazer, sou livre porque me posso comprometer com o que devo fazer… Mas o limite é a escassez. E contra isso furto-me a novos compromissos.

Recordo o que Nietzsche dizia sobre a superioridade aristocrática: só os ricos e poderosos podem prometer, só eles podem dar a sua palavra. O aristocrata tem poder para controlar o seu futuro, cumprir ou não a palavra é uma questão de vontade.Sou em certa medida um aristocrata. Mas para controlar o meu mundo, porque sou alma grande em corpo pequeno, não faço um império de conquista. Não tenho recursos para o império da conquista. Faço um império à minha medida, talvez pequeno, mas vasto. Faço o império do contacto. Faço o meu império num ir e vir caravélico por mares instáveis. São as ondas que me ligam ao mundo da distância. Aqui, (bem sei) sou pequeno, sou boçal: sou um proletário sorrindo na opressão do burguês pelo seu próprio sistema. Além-distância, tenho o império de todas as possibilidades imaginárias.
Talvez eu já seja a geração do futuro, o sacerdote sem ressentimentos. Para mim o modelo do sacerdote sem ressentimentos é Cristo. O meu Reino não é deste Mundo. Não conheço nenhum império que tenha durado mais que o de Cristo. E o império de Cristo ainda dura. Dura não apenas o seu império por ser Deus. Dura o seu império pelo Homem que foi.
O meu reino tem de ser deste mundo. Para isso o meu reino não é só meu e a propriedade é um roubo. Todos os socialismos utópicos se vergam ao Socialismo Científico. Toda a ciência se verga aos limites da não existir, de não existir para lá dos limites da religião racional. O meu reino neste mundo é o reino colectivo onde o livre desenvolvimento de cada um é condição para o livre desenvolvimento de todos. O meu reino é deste mundo mas está em construção. A seara é grande os operários são poucos. Talvez se soubessem que são operários fossem mais. Porque está em construção, este meu… este nosso reino não está aquém nem além. Este nosso reino é o império do caminho. Já não é Mare Nostrum, nem Mare Clausum, é um Mare Liberum concretizado como Res Communis pelo livre acesso às praias, aos caminhos e às embarcações…
Sem barcos acessíveis a todas e todos, a liberdade dos mares não é mais que o direito de acesso exclusivo aos proprietários burgueses dos barcos. Isto é verdade nas comunicações marítimas, nas terrestres, nas aéreas, nas informáticas; isto é verdade especialmente no circo público e no pouco pão a que chamam com maquiavélica ironia: Democracia.

Talvez os burgueses acreditem ser democratas até à última consequência, pois todo o resto são inúteis e ineficientes utopias…. Pouco me importa! Concordo com Lucien Sève quando afirma que todas e todos somos oprimidos pelo Sistema Capitalista enquanto Humanidade. É verdade! A procura incessante do lucro, por maior que seja o incremento de capital, não garante um igual, ou próximo, crescimento do bem estar e da felicidade. Mas há níveis de opressão não só bem mais evidentes como também mais importantes e vitais. Se o coitado do burguês vive mal com o sistema que o favorece, se vive mal com o sistema patriarcal, etnocêntrico e capitalista, se o burguês vive mal com o sistema que a sua classe agravou nos últimos séculos, nas últimas décadas… Se vive mal, que colabore na sua destruição! DUVIDO! Não vou ficar à espera. Há sempre quem adira à causa do que hoje podemos chamar Precariado, sem dele fazer parte…
Mas são aquelas e aqueles que nada têm a perder quem pode dar vida ao movimento da mudança.
(Comboio, Dezembro de 2007)

VI Carta Revolucionária (luta concreta e urgente)

Comboio Lisboa/Santarém, 9 de Julho de 2007

Caríssimas Amigas e Amigos,
Caríssimas e Caríssimos Colegas,
Caríssimas e Caríssimos Camaradas,
Companheiras e Companheiros desta luta,

Apelo à Revolução de Setembro! Apelo a uma nova Revolução de Setembro:

· pela defesa duma educação pública e democrática do pré-escolar ao superior,
· pela defesa da Europa Social e por uma democratização da União Europeia,
· pela defesa da Democracia e do Serviço Público em todas as suas vertentes.

É provável que não seja viável fazê-la em Setembro(1) . Talvez em Outubro…. Embora não seja lá muito unitário fazer uma “nova revolução” em Outubro – A Revolução de Outubro faz 90 anos, em Novembro… Tem é de ser no último trimestre deste ano: são os últimos meses da presidência portuguesa da UE e são os primeiros meses do ano lectivo após o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES).

É já após este Verão, mas há urgência em agir já. O descontentamento é generalizado a todas as políticas que atentam contra os serviços públicos e a democracia. Sectorialmente estão descontentes: os funcionários públicos em geral com a “lei da mobilidade”, os vários corpos constituintes da Comunidade Académica (investigadores, estuantes, docentes e funcionários não-docentes e não investigadores) com o RJIES, os utentes dos serviços de saúde de diversas regiões com o encerramento total ou parcial dos mesmos, os professores do ensino básico e secundário com estatuto da carreira docente, os estudantes do secundário com as “jaulas de substituição”.

A contestação do RJIES tem sido levada a cabo uma pequena ou pequenas vanguardas académicas constituídas maioritariamente por estudantes, embora contem com a participação de elementos oriundos dos demais corpos académicos.

Retomo hoje, dia 12, (em casa, Santarém) após ter participado com alguns membros do Movimento Pára a Lei na Manifestação da Função Pública. Este Movimento nasceu em torno da petição à Assembleia da República com o objectivo de, naturalmente, parar até Janeiro de 2008 a proposta de lei do governo que estabelece novo RJIES para haver a necessária discussão pública. Na manifestação uma das manifestantes perguntou-me o que era MCTE (na faixa convocámos concentração para a frente do Ministério a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior). Fez então uma pergunta quase retórica Não é para o Ministério da Educação? De facto, esta divisão entre Ensino Superior e os demais níveis de educação não só quebra toda uma lógica de estratégia de conjunto para a Educação como, na prática, nos divide nesta luta.

Foi dividindo os vários corpos das IES que o Processo de Bolonha foi levado a cabo nas suas piores vertentes. A legislação surgiu tardia e fragmentada para confundir. Cada Escola estava preocupada consigo, cada docente com as suas cadeiras, cada licenciatura consigo, cada turma com o seu ano, cada estudante com o seu precurso… Nem todos agiram assim, nem em todo lado foi assim; mas o resultado dessa fragmentação está à vista… Não podemos deixar que nos dividam; não nos podermos limitar às gavetas onde nos guardaram.

Na manifestação, ouviam-se os gritos do costume. Isso já tem 30 anos comentavam em tom de brincadeira alguns manifestantes sobre palavras d’ordem. Está na hora, está na hora/ Do Governo se ir embora etc. etc. Está sempre na hora, mas nunca vai. As sondagens até podem mentir, mas acredito que o PS ganhava as eleições amanhã sem margem para dúvidas. As cidadãs e cidadãos embora de caso em caso estejam contra o Governo, nem vêem alternativa no outro partido do centrão (PSD) nem estão dispostas a “radicalizar o seu voto”.

As propinas, Bolonha, RJIES, estatutos das carreiras dos docentes, regime de mobilidade da Função Pública, Flexigurança, Estratégia de Lisboa, Tratado Constitucional/Tratado de Lisboa… Tudo isto se liga num rumo político legitimado pela inacção, pela alienação dos poderes do Estado para estruturas da UE não controladas directamente pelo voto das cidadãs e cidadãos europeus…
Após nova paragem, retomo, no meu regresso ferroviário de Lisboa para Santarém. Estamos já a 27 de Julho: na semana passada, ocupei a Segunda-feira com novo protesto contra o RJIES e o Domingo anterior e seguintes dias coordenando com a Anita (Ana Ferreira) um Workshop sobre Coesão Social Europeia no âmbito do IX Encontro da Federação de Associações de jovens Cidadãos da Europa (FACE). Isto não vem apenas justificar (em conjunto com os exames em curso) mais esta paragem na escrita, vem também a propósito do parágrafo anterior.

Ambos europeístas de esquerda, a Anita e Eu tivemos de esforçar-nos pela imparcialidade naquele workshop; até porque era o mais correcto. Mesmo assim, através das várias sessões surge, entre as conclusões e recomendações dos grupos de trabalho, por maiêutica e não por imposição, a seguinte recomendação de que me confesso relator:

As the goals of creating “more and better jobs” and achieving a “grater social cohesion” (established in the Lisbon Strategy) are not being given enough attention due to the instability the intergovernmental system causes: the EU should give more power to its Parliament. This empowerment of EU citizens trough the EP is very important to social cohesion. EU citizens would fell responsible for EU policies if the sole communitarian institution they vote (EP) got more power.

Foi através do meu Liceu que participei em três encontros da FACE e foi o mesmo Liceu de Santarém que organizou este IX encontro em conjunto com o Centro Europe Direct. As jovens cidadãs e cidadãos ficaram alojados na residência Andaluz do Politécnico de Santarém… Talvez divague, mas tudo isto se junta no meu pensamento: a Revolução de Setembro, a rede de liceus, a Constituição versus Carta Constitucional, Europa Social, luta anti RJIES, europeísmo de esquerda… Regressa-me o pensamento aos pátios do Liceu; daí projecto multidões cidadãs pelas ruas de Setembro, Outubro e Novembro: as várias vítimas da vaga anti serviço público e da rapina do poder cidadão para as instituições indirectissimamente comunitárias ao serviço do centro dos interesses.

O último trimestre deste ano tem de ser em grande!

Bruno de Góis
[1] O que é pena, pois recordo que a Revolução de Setembro de 1836 foi uma festa que começou com a recepção calorosa (no cais das colunas, em Lisboa) dos deputados da então esquerda (eleitos no Porto) e resultou na revogação da Carta Constitucional (reaccionária outorgada pelo rei) ao ser forçada a Rainha a jurar a democrática Constituição de 1822. A Constituição de 22 vigorou até ao fim de novo processo constituinte – origem da efémera Constituição de 1838 que sucumbiu ao contragolpe ordeiro. O Setembrismo tem entre os seus legados a moderna rede de liceus.

"Dai-me um ponto de apoio e eu moverei o mundo"

Foi Arquimedes de Siracusa quem ciou instrumentos simples como a alavanca e a roldana. Arquimedes, para manifestar a utilidade do seu invento, a alavanca, disse: “Dai-me um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. De facto, são ideias simples como a roldana e a alavanca que mudam o mundo.
Ter ideias não é mais que descobrir o que sempre existiu. Foi Agostinho da Silva quem lançou a hipótese de talvez as ideias andarem pelo mundo só à espera de serem interpretadas. O Mestre disse talvez. Talvez...
Por vezes, é nos momentos mais quotidianos que o nosso olhar distraído toca o objecto escondido – a isso chama-se ter uma ideia. Talvez apenas estejamos a destapar o objecto de existência prévia e desconhecida – isso é descobrir.
O Ser Humano, também ele quando no ventre materno é uma mera impressão vislumbrada. Algum tempo antes do parto, o ser já existe mas não se vê como será. Mas há que pari-lo para que seja visto por todas e todos. Só depois de parido poderá crescer em pleno e pelo leite e pelo amor ganhar autonomia.
Como sucede com a Humanidade, sucede com as ideias. Recordemos que uma das artes do Mestre Sócrates era fazer parir ideias – a maiêutica. As ideias, quer já nos esperem para ser interpretadas quer não, têm de ser paridas. E são grandes as dores de parto. Mas vale a pena, dar essas filhas ao mundo. Dar, atenção! DAR.
Abramos a nossa mente ao Mundo! E quando menos esperarmos, tal como na lenda de Arquimedes, estaremos a sair nuas e nus, correndo pela cidade. Tão sublimemente inocentes e sábios gritaremos Eureka. Um Eureka de quem ama o mundo, de quem se deslumbra com um mundo que é feito de pequenas coisas, mais pequenas que o átomo.
Abramos a nossa mente ao Mundo!
(30 de Junho de 2006)

Estrela em Movimento

"Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria" Mt 2,11